CASAIS GAYS SOFREM NOVA PRESSÃO: TER FILHOS
Por Por Rachel L. Swarns- The New York Times News Service/Syndicate
Washington – Quando o radiante casal se uniu em junho, trocou votos personalizados e anéis de titânio, celebrou com brindes e dançou até ficar sem ar. Então, perguntas inesperadas começaram a surgir pela noite adentro.
Um após o outro, os convidados começaram a perguntar: vocês vão ter filhos? Quando vocês vão ter filhos?
Tom Lotito e Matt Hay, ambos de 26 anos, ficaram emocionados. Quando eram adolescentes, nunca imaginaram que se casariam, muito menos que amigos e familiares os encheriam de perguntas sobre ter filhos.
'É outra coisa que me faz sentir que o que temos é válido diante dos olhos dos outros”, diz Hay, que se casou com Lotito em junho, frente a 133 convidados.
À medida que legisladores e tribunais expandem a definição legal de família nos Estados Unidos, casais de mesmo sexo estão começando a sentir a mesma pressão quanto a ter filhos que os casais heterossexuais sentem há tanto tempo.
Para alguns casais, é outro sinal bem-vindo de sua crescente inclusão nos padrões sociais norte-americanos. Porém, para outros, que têm de ouvir perguntas persistentes sobre filhos no escritório, em festas e reuniões familiares, a questão pode ser bem mais complicada.
Muitos homens gays se conformaram com a ideia de que nunca seriam aceitos pela sociedade como pais amorosos, presumindo que nunca teriam filhos. Sofreram essa perda e seguiram adiante, mesmo enquanto outros homens e mulheres homossexuais adotavam uma vida sem filhos. Por essa razão, essas perguntas podem trazer à tona sentimentos amargos e causar desentendimentos profundos entre um casal sobre ter filhos ou não, agora que cada vez mais casais homossexuais resolvem ser pais.
O processo também pode ser difícil em termos logísticos e financeiros, com os pais tendo de escolher entre adotar ou usar uma barriga de aluguel. E assim que têm filhos, muitos casais homossexuais ainda enfrentam críticas inevitáveis – verbalizadas ou não – daqueles que ainda não se sentem à vontade com a ideia de que eles sejam pais.
Contudo, o apoio para que casais de mesmo sexo tenham filhos tem aumentado no país. Uma pesquisa do Centro de Pesquisa Pew, realizada em julho e divulgada na semana passada, revelou que, pela primeira vez, a maioria dos entrevistados em uma enquete – 52 por cento – disse que homens e mulheres homossexuais deveriam ter permissão para adotar crianças, um número maior do que os 46 por cento de 2008 e os 38 por cento de 1999.
A mudança na opinião pública e a simples pergunta – vocês vão ter filhos? – deixa alguns homens gays maravilhados, talvez ainda mais do que as lésbicas, para as quais dar à luz sempre foi uma opção.
Greg Moore, de 62 anos, gerente corporativo aposentado de Fort Lauderdale, Flórida, balança a cabeça com admiração quando vê jovens casais de homens conversando sobre seus filhos pequenos. Essa possibilidade parecia fora do alcance quando ele e seu marido, de 74 anos, que estão juntos há 44 anos e se casaram em 2008, sonhavam ter filhos.
'Os gays não tinham filhos', disse ele, melancolicamente. 'Só os héteros tinham.'
A cultura popular está ajudando a rescrever essa história. Os homens gays que têm ou estão considerando ter filhos estão se tornando cada vez mais visíveis na televisão. Em 'Modern Family', o programa de TV mais popular nos EUA, o casal Mitchell e Cameron considera adotar um segundo filho na última temporada que foi transmitida. Em 'Scandal', uma nova série da ABC, um funcionário de meia-idade da Casa Branca reclama sobre o desejo de seu parceiro de adotar um bebê da Etiópia. E neste outono, uma nova sitcom da NBC, chamada 'The New Normal', mostrará um casal gay e sua barriga de aluguel.
A mudança também se reflete em dados do censo. Entre 2000 e 2010, entre os casais homossexuais que têm filhos, a porcentagem de casais com crianças adotadas aumentou de 9 por cento para 20 por cento, de acordo com uma análise de Gary Gates, demógrafo do Instituto Williams na Universidade da Califórnia, em Los Angeles. (A maioria dos casais homossexuais que têm filhos adotivos são de lésbicas, mas os homens gays correspondem a uma fatia crescente, respondendo por cerca de um terço desses casais em 2010, bem mais do que um quinto, índice registrado em 2000.)
'É inquestionável que o conceito de família está evoluindo', diz Gates.
Porém, ele também observou que muitos norte-americanos continuam profundamente contrários a que pais gays tenham filhos.
Em dois estados – Utah e Mississippi – a adoção de crianças por casais homossexuais é explicitamente proibida. Em metade dos outros estados, eles enfrentam obstáculos legais significativos, particularmente porque não podem se casar legalmente. E alguns líderes religiosos se recusaram a oferecer serviços de adoção para casais gays.
Bispos católicos romanos de Washington D.C., Illinois e Massachusetts fecharam serviços de adoção, em vez de cumprirem com exigências de considerar casais de mesmo sexo como possíveis pais adotivos.
Consequentemente, mesmo em redutos democratas, como Washington, alguns homens gays guardam seus sonhos de ter filhos para si mesmos.
Porém, para Jeff Krehely, de 35 anos, casado há seis, não há como escapar dessa questão em seus círculos sociais. Seus amigos fazem perguntas. Seus colegas de trabalho também. Seus pais estão tão ansiosos que começaram a enviar cartões de aniversário para os seus dois gatos (eles os chamam de 'grandkitties', algo como 'gatinhos netos').
No feriado de 4 de julho, quando Krehely e seu marido tomavam café gelado com vários outros casais gays, ele sabia que era só uma questão de tempo para que o assunto viesse à tona. Três dos cinco casais disseram que estavam considerando seriamente a adoção.
'Todos ficaram perguntando: como está seu cronograma? Qual é o seu plano?', diz Krehely, analista político, que ainda está avaliando se quer mergulhar de fato nessa história.
Alguns homens gays que não têm planos de ter filhos, porém, veem a mudança como uma espécie de faca de dois gumes. Por um lado, eles recebem bem a sensação de inclusão que acompanha o fato de sempre responderem perguntas sobre filhos. Por outro lado, esse tipo de pergunta se tornou insistente.
Rudolph Chandler, de 57 anos, e George Walker, de 43, que se casaram em 2010, pensaram bastante antes de optar por não ter filhos. Disseram que admiram muito os amigos que são pais. Contudo, hoje em dia, eles respondem com tanta frequência quanto a planos de ter filhos que ficam sem paciência quando o assunto surge.
'É irritante, cansativo', diz Chandler, economista especializado na área de saúde.
John Corvino, de 43 anos, diretor do Departamento de Filosofia da Universidade Wayne State, em Detroit, até elaborou uma resposta padrão que dá com um tanto de humor quando é questionado sobre se quer crianças: 'para tirar a neve e cortar a grama? Claro', diz ele. 'Mais do que isso, não.'
Quanto a Lotito e Hay, o casal que se casou em junho, em North Bethesda, Maryland, eles confessaram ter ficado cansados com as perguntas repetitivas sobre filhos na noite de seu casamento.
'Foi tipo: 'o casamento ainda está rolando, pessoal'', diz Lotito. 'Fico lisonjeado com as perguntas, mas não estou pensando nesse assunto.'
Lotito, que trabalha com contratos para uma agência federal, diz que nunca quis ter filhos. Hay é professor de música do ensino fundamental. 'Ele dá aula para cerca de 800 crianças por semana', diz Lotito. 'É bom não ter crianças quando ele chega em casa.'
Isso não impediu que os amigos e familiares continuassem perguntando. A mãe de Lotito, Lisa Sanno, que sonha com netos e perguntou a eles a respeito (mais uma vez) no casamento, tem pensado sobre todas as opções.
No momento, ela tem gostado particularmente da ideia de uma barriga de aluguel que possa dar a seu genro e a seu filho dois filhos biológicos, um de cada um.
'Eles são jovens', diz Sanno, sempre otimista. 'Talvez mudem de ideia.'
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